Ceilândia , segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Crise na saúde pública: nova confusão na UPA de Ceilândia expõe colapso no atendimento pediátrico

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Texto original extraído na integra de: Fatos On-Line em 29 de abril de 2025

Após quebra-quebra no domingo, nova tensão ocorre na noite desta segunda-feira (28); déficit de pediatras e superlotação agravam situação nas unidades do DF

A Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Ceilândia voltou a ser palco de tumulto na noite desta segunda-feira (28), menos de 24 horas após um grupo de pacientes ter depredado a estrutura do local em protesto contra a demora no atendimento. Em meio à presença de policiais militares, que tentavam conter os ânimos, pacientes denunciaram as falhas na assistência médica. Uma mulher, indignada, cobrou providências: “Está todo mundo passando mal. Ninguém está aqui brincando, não”, desabafou.

As imagens mostram a unidade lotada. A confusão mais recente ocorre na esteira de um episódio ocorrido no domingo (27), por volta das 19h50, quando usuários destruíram parte da estrutura da UPA. Uma pessoa foi detida por dano ao patrimônio público. Segundo o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF), a origem do tumulto foi a decisão da unidade de restringir temporariamente o atendimento pediátrico, para priorizar crianças internadas em estado grave. No momento da confusão, apenas quatro clínicos e uma pediatra estavam de plantão.

Na tarde desta segunda-feira, crianças com sintomas como febre alta e dificuldade para respirar só eram atendidas caso apresentassem febre acima de 39°C e saturação de oxigênio inferior a 85%. A restrição segue sem prazo para ser suspensa, e o Iges-DF recomenda que os pacientes busquem atendimento em outras unidades, como a UPA II de Ceilândia.

Com o colapso em Ceilândia, pais percorrem diferentes unidades em busca de assistência. Sem conseguir atendimento no Guará, onde só são acolhidos casos classificados como “vermelhos”, alguns pais seguiram para Ceilândia e enfrentaram o mesmo protocolo rígido.

A crise não se restringe à Ceilândia. A falta de médicos também atinge outras unidades próximas, como a UPA do Setor O. Com isso, famílias têm se deslocado para cidades vizinhas, como Samambaia e Recanto das Emas, em busca de socorro.

Em nota, o Iges-DF afirmou que a medida emergencial visa preservar vidas e reconheceu que a escassez de pediatras, agravada pela sazonalidade das doenças respiratórias, tem dificultado a recomposição das equipes. A entidade condenou os atos de violência e alertou que essas atitudes tornam o ambiente mais hostil para profissionais e pacientes.

Segundo o Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico), o déficit de pediatras na rede pública é alarmante: faltam 172 profissionais. Atualmente, a Secretaria de Saúde do DF conta com 445 pediatras — número 35% menor que o registrado em 2014, quando havia 684. O Iges-DF, responsável pelas UPAs e por hospitais como o de Santa Maria e o de Base, dispõe de apenas 168 especialistas da área.

Entre 2018 e 2025, 603 pediatras foram nomeados para a rede pública, mas apenas 124 assumiram os cargos. O motivo, segundo o sindicato, está nas más condições de trabalho e na baixa remuneração oferecida. “Não faltam médicos no mercado. Faltam no serviço público, porque não há política de valorização”, disse o presidente da entidade, Guttemberg Fialho.

O cenário se agrava diante da explosão de casos de doenças respiratórias. De acordo com o sistema InfoSaúde, entre a 1ª e a 14ª semana de 2025, foram registrados 85.791 atendimentos por síndromes gripais na rede pública. Desse total, 15.756 envolveram crianças de até 3 anos. Só nessa faixa etária, o número de casos saltou de 307 na primeira semana do ano para 1.852 na 14ª.

Para o SindMédico, a solução passa por uma reformulação no plano de carreira e pela realização de concurso público com ampla convocação. A contratação temporária, defendida pela Secretaria de Saúde, não tem surtido efeito. Dos 175 profissionais pretendidos, apenas 38 foram efetivamente contratados.


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